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sexta-feira, 29 de abril de 2011

OS ÚLTIMOS "PAU DE ARARA" (conto relato em lll partes

                                      Parte l


Brás era um rapaz cheio de sonhos, morava na cidade de Pitombeiras, numa região muito seca do Nordeste. Pouco se plantava, o solo era árido, o sol  castigava as poucas plantações e o gado magro que se alimentava  da única planta resistente, o cacto,a água salobra nos açudes quase secos e até que a chuva voltasse, o povo sofria, sem trabalho,a colheita que os alimentavam, estava acabando, mas não perdia a esperança.em Deus  das coisas dali melhorar.
                     O Braz não pensava assim, não poderia esperar que Deus mandasse chuva suficiente, para haver mais prosperidade, esperar que tudo caísse do céu. Teria que fazer a parte dele, sair dali. Sabia que o mesmo Deus dali era o mesmo das cidades grandes, mas parecia que Ele olhava mais para o outro lado. Por intermédio de amigos e parentes que tinham ido lá para as bandas do Sudeste do País, soube inclusive que seu tio José de Arimatéia   já estava trabalhando em São Paulo,exercendo a profissão de chofer de caminhão.ele prometera através de uma carta , ao sobrinho, ajudá-lo a arranjar um emprego.
                  Daquela cidade, que nada havia para oferecer, ele já não tinha esperança, nem de ajudar á família e nem a si mesmo. Vivia de biscate, uma hora era mascate, vendendo de porta em porta:sabonetes, perfumes, aviamentos, meias...Porém, o lucro era pouco. Ás vezes acordava bem cedo para vender  tapiocas, cocadas, na estação de trem.Precisava ajudar aos pais, era o mais velho, o décimo de uma família de seis mulheres e quatro homens, encostado a ele só o irmão de quinze anos que ajudava o pai na lavoura, depois as mulheres e por último, os dois pequeninos, o caçula de um ano e quatro meses e o outro de dois meses ainda de colo.
                      . Brás ainda era de menor, estava perto  de completar maioridade, por isso  o seu pai Emanuel pediu que ele esperasse, para  apresentar se primeiro no exército,tirar a carteira de reservista e se liberado ,sim ,poderia viajar.


                    Ele olhava para a mãe Rosário, numa máquina de costura de mão, às vezes costurando á noite sobre à luz da lamparina, trabalhava fazendo calças e camisas de homem para um feirante que tinha uma barraca  na feira,ganhava por produção. Pensava e prometia logo em seguida:

                 ─ Mãe se eu for para São Paulo e conseguir logo um emprego, o meu primeiro ordenado, é para a senhora comprar uma máquina de costura de pedal nem que seja a prestação! Isso é uma promessa viu?
                ─ Ta meu filho, que Deus te abençõe e os anjos digam amém!
  
                 Quando era época da colheita da principal plantação, a mandioca, somente os maiores de casa iam, ajudar a arrancar, carregar os caçoais do jumento para fazer farinha. Seu pai alugava uma casa de farinha para a tradicional “farinhada” era uma semana de trabalhos coletivos.
                  Quando era para semear, milho, feijão,  maniva da mandioca e rama de batata doce, D Rosário deixava as suas costuras para fazer á noite e iam todos da família, inclusive os pequenos.  Ele gostava de ver a  alegria da sua mãe, apesar de tanta dificuldade, sorrir, e cantar umas cantigas que ele nunca  esquecera, principalmente quando ela estava no roçado.Sua mãe deixava os pequeninos brincando debaixo da sombra de um juazeiro, com uma cabaça de água barrenta e salobra, para eles beberem quando sentisse sede.Ao comando  dos maiores os incentivavam a plantar com alegria

Ele não, era carrancudo, sério, não conseguia sorrir presenciando tudo aquilo, ainda mais quando ouvia a mãe cantar apesar dela parecer feliz ,cantava canções tristes:

Sentia um nó apertado na garganta e pensava, Onde será que  a sua mãe tinha aprendido aquelas canções tão triste? Não ousava lhe perguntar, achavam bonitas, porém muito melancólicas e trágicas. Não era só a sua mãe, o seu pai também, assobiava  “Asa branca”, “Triste partida”,”Assum preto” eram canções tristes de Luís Gonzaga.
             
           Pensou, será que aquele povo habituou a conviver e gostar daquele tipo de canções que falavam em tragédias? Sabia que existiam, outras canções alegres e até assoviava vez em quando alguma, mas não sabia cantá-las.dando-lhe alento aos  pensamentos arredios.

              Brás tinha dois amigos muito chegados a ele. Os dois com os mesmos objetivos em  comum , o sonho de ir embora para S.Paulo. João Batista de dezenove anos, companheiro inseparável, era seu vizinho, tinha estudado na mesma escola. e o Genésio de dezoito anos, que ele conheceu  nas farinhadas que o seu pai vez em quando contratava por uma semana para ajudar, era o forneiro que secava a farinha, ensacava para  depois ser vendida na feira pelo o seu pai. Eram todos muito unidos, jogavam uma pelada no único dia da semana que respeitavam e não trabalhavam, o domingo.
  
             Final da década de50, ano de 1957 foi um ano de muita seca. Brás e seus amigos já tinham sido dispensados do exército, adquirido a carta de reservista e estava esperando a resposta, de uma carta que tinha sido enviada, endereçada ao  seu tio José de Arimatéia.

              Nos últimos meses tinham sido crítico, nem conseguia vender, os objetos pela as portas ninguém tinha dinheiro. Os seus amigos a mesma coisa, tudo sem ter o que fazer, esperando também ajuda de parentes do de S.Paulo:

          Estava conversando com os amigos quando ouviu seu irmão Adalberto correndo em sua direção com um envelope verde-amarelo nas mãos:


             ─ Olha mano o que chegou!
              ─ Tomara meu Deus que seja boas notícias! Os amigos em volta querendo saber também., ele abriu o envelope e já deparou com uma foto do tio pousado na frente de um caminhão. Sorriu, coisa rara, e os amigos  torcendo:
              ─abre e leia logo essa carta homem de Deus!

              ─Ta, calma vou ler , e começou abrindo mais o sorriso e pulando diz:

              ─eu vou para S.Paulo! Tio José vai me emprestar o dinheiro da passagem!
               Todos gritaram: ─Ora viva!
                ─ Que bom, disse João Batista, o meu padrinho prometeu também emprestar, disse-me que ia vender uma bezerra para a minha passagem. Assim poderemos ir juntos.
             
                 Só o Genésio ficou calado, cabisbaixo:
                   ─ que foi amigo? Perguntou o Brás.

                   ─ E se os meus primos que moram em S.Paulo não me mandar o dinheiro da minha passagem á tempo?
              
                    Brás e João Batista responderam simultaneamente:

                                     ─ a gente  espera!



             De fato, assim  fizeram. O padrinho do João Batista vendeu a bezerra, e já lhe passou o dinheiro, o tio do Brás, já tinha mandado o dinheiro pelo  o carreio para o sobrinho. Faltava  o Genésio.

          O Brás que sempre estava em contato com as pessoas que iam e vinham, para o Sudeste, ficou sabendo de uma notícia que o preocupou. O “Pau de arara” estava com os dias contados, era o único meio de transporte barato, seria muito breve substituído por “marinetes”  e o preço dobraria.
            
              Marinete, era  um pequeno ônibus com a frente parecendo uma boléia de caminhão com o bagageiro em cima e com uma escada de acesso.Na boléia era  reservada para a rara presença de mulheres e crianças e quando não ia, a vaga era preenchida pelo o ajudante. Seria mais confortável que o pau de arara. Esse pau de arara ,era um caminhão com bancos laterais feitos de madeira,  uma corda esticada no meio para apoio ou quem quisesse segurar e ir em pé e uma lona para cobrir em caso de chuva.O pau de arara,  ficaria somente para outros meios de transportes como: pequenos passeios, fazendas, feiras, comícios, bóias-frias,carregar eleitores em épocas de eleições e romarias.
O Brás correu e deu a notícia para os amigos e familiares, seu pai  o aconselhou  ir logo:
     
         mas pai eu e o João Batista prometemos esperar o Genésio.
         Se esperarem por ele, nenhum vai conseguir ir com tão pouco dinheiro chegar á São Paulo!
         ─ Espere, vou ver se arrumo  o dinheiro emprestado com a prefeita da cidade, eu ia mesmo pedir para  ti, se o seu tio demorasse um pouco mais! Ainda não fale nada a ele. Estou indo.
       
          D. Anita era a prefeita do lugar, muito querida pela a população. Era uma criatura caridosa.Todo o povo do lugar acreditava que ela não fazia aquilo com interesses políticos, independente de ser época ou não de eleição, ela estava sempre ajudando um ou outro dependendo da necessidade. Até mesmo como conselheira, quando alguém estava com problema pessoal ou social. Bastava esperar na fila..

        D Anita recebeu o seu Emanuel e também atendeu o seu pedido. Disse que falasse para o Rapaz que não tivesse pressa em pagar, se arranjasse primeiro lá em São Paulo.

         Seu Emanuel chegou com o dinheiro e já foi falando:

         ─ Está aqui, Braz vá chamar o seu amigo e tratem de arrumar as malas, pois pau de arara é só uma vez por semana, e já fiquei sabendo das notícias novas, a partir da próxima semana a marinete vai começar a rodar para o Sudeste do Brasil.
    
              D. Rosário chorando e ajudando ao filho á arrumar  mala ,  fazendo mil recomendações:
          
              Meu filho tenha cuidado com o frio, eu ouvi dizer que lá garoa muito e a temperatura é muito baixa, tu já tens problemas com sinusite, assim que tiver trabalhando, compre logo blusa de frio e que Deus te ilumine e abençõe o teu trabalho, teus passos, tuas  companhias, teu tio e família!
     
             ─ Ta  mãe, eu prometo que vou me cuidar, mas a promessa que eu fiz é do meu primeiro ordenado, mandar para a senhora  comprar uma máquina de costura de pedal.

              Chegou o grande dia, dia da despedida, hora da separação, todos os vizinhos e parentes na calçada da rua despedindo daqueles três jovens sonhadores que iam para longe dali em busca de dias, meses e anos melhores.

           Chegaram  ao centro da cidade onde o pau de arara já estava quase lotado, cada um carregando uma mala e um saco de comida. A viagem era longa, dez dias, isto é se o caminhão não desse o prego.  Era  estrada de chão, muita poeira se não chovesse e muita lama se Deus mandasse aquele bem tão precioso que faltava na sua terra.
           
              A bagagem que a mãe do Braz preparou com muito carinho e  os olhos marejados de lágrimas estava arrumada assim: Na mala: 3 calças, 3 ceroulas, 2camisas mangas curtas 2 de manga comprida, sabonete, pasta de dente,brilhantina, um pente, um lençol. uma toalha feita de saco de açúcar e uma  gaita de boca que ele gostava de tocar.. No saco de comida havia: uma colher, uma faca, muita farinha  de mandioca seca, carne de sol assada, uma lata contendo um doce de jaca que ela fez especial para ele levar, rapadura , alguns beijus secos e bolachas.
             Dos seus amigos, a mala ele não sabia o que levavam, certamente quase as mesmas coisas . No saco quase tudo igual, só o  João Batista levava algumas coisas a mais, uma lata de goiabada, um queijo de coalho doado pelo o padrinho dono de gado da região e alguns cocos  secos e verdes sem as cascas.

           Hora da partida, era muito chororô, parecia que estava saindo um enterro, menos o Braz que era duro em chorar, chorava por dentro em ver a mãe em prantos. Parte o pau de arara, todos acenando com as mãos, mas antes da saída D. Rosário, o entregou um terço e disse:
            Continua...

terça-feira, 12 de abril de 2011

A revolta de "JESUS" (causo tragicômico)

                      A revolta de “Jesus”  (causo tragicômico)

Certa vez como de costume na sexta-feira santa, fui a igreja do meu bairro assistir a celebração da paixão e morte de Jesus Cristo. Sempre saía de lá condoída com o sofrimento dele, mesmo sabendo que todo o ano se comemorava a morte de Jesus, quando se narrava o evangelho então, as lágrimas brotavam de emoção.  Depois eu fazia adoração da Cruz.

Naquela sexta-feira santa, daquele ano, porém foi bem diferente. Ensaiaram algumas pessoas da comunidade para fazer a encenação da paixão...Todos pronto com seus vestuários adequados,tudo muito simples: os soldados romanos com suas armaduras,capacetes,cinturão tudo dourado as roupas em vermelho, chicotes... Pilatos também bem trajado, as Marias com seus mantos: azul, branco e roxo, o José de Arimatéia que iria pedir o corpo de Jesus para sepultá-lo  e o personagem principal o mais importante da peça, Jesus..

O pátio da igreja lotado, gente por todos os lados inclusive eu, prestando atenção a tudo em minha volta. Juro que eu não queria e nem estava ali com segundas intenções, até porque não cabia ali deboche, crítica, ou mesmo riso, nada havia de engraçado, muito pelo contrário.... Mas, eu não sei direito se foi obra do inimigo, só pode ter sido, tenho quase certeza, quando começou a representação, quando Pilatos interroga Jesus, pede a ele para responder se “ele é o filho de Deus, se ele é Rei”, Jesus responde que o “Reino dele não é o da Terra” O Pilatos pergunta ao povo se “solta o prisioneiro Barrabás ou Jesus?” O povo grita “Não, solte Barrabás , crucifique, mate Jesus!!!”, O Pilatos lava as mãos entregando Jesus aos soldados ,

Foi aí que começou o massacre: os “soldados” levaram a sério demais, chicoteando  “Jesus”sem dó nem piedade, com toda força e crueldade, senti pena do “ator”, quando escutei ele o “Jesus” falar revoltado quase susurrando: para o povo não ouvir, mas eu como estava muito próximo do pobre coitado que apanhava, escutei “bate mais devagar seus filhos da p...!!!” Segurei o riso, não era momento para aquilo, dava impressão que os soldados estavam descontando alguma mágoa com o que apanhava, pois batia de verdade. Enfim Chegou o momento crucial dele ser despido e pregado na cruz.

Foi a vez das Marias chorar...Foi aquele chororô, mas parecia risos do que choros por baixo do manto de cada uma delas. ...

De repente, na hora de pregar Jesus na cruz, ou seja, amarrá-lo e o colocar no suporte, suspender, calçar a cruz, houve um fato curioso: quando tudo parecia seguro, a cruz começa a despencar do lugar, arriando um braço dele., os pregos do suporte dos pés afrouxaram, todo o povo em côro “OH!!!”As Marias que eram para continuar chorando e muito, pararam, esqueceram de chorar, com bocas abertas  e olhos arregalados na cena. .O produtor que os tinham ensaiado cutucou com seu dedo fura bolo uma por uma dizendo: “chora, chora, chora”! Daí todas choraram exageradamente.

 Na verdade, nessa encenação quem mais sofreram foi Ele o verdadeiro Jesus e o  falso, o ator.. Deixei o riso para depois. Não era nem para achar graça, mas o “o anjinho do mau”não quis deixar por menos.
                                                                    Dora Duarte

domingo, 3 de abril de 2011

Gravando!!!!(crônica)


Finalmente depois de vários ensaios (um dia dava pra mim, outro não dava pra o editor produtor e vice versa) para começar gravar um cd de música bem fora do contexto dos dias atuais. Eram velhas canções, ouvidas na infância: de lavadeira, de minha mãe,de pessoas mais velhas que nem lembro como era o rosto,  era muito pequena. Era um sonho meu, estimulado pela minha amiga Gilka., quando me ouviu cantar na Roda de história...

Sabe aquela coisa de recear esquecer, ou  morrer e não deixar raízes, esquecidas e deteriorada pelo tempo? Já que algumas das minhas irmãs conhecem as cantigas, mas não têm meios para publicar nem muito interesse Assim eu pensava. Mas como sonho só se realiza com um “empurrãozinho” de alguém, encontrei em meu caminho, Gilka e o sr Donato. Gilka doutora professora de ensino pedagógico na Universidade Federal de Santa Catarina, quando cantei na roda a pedido dela,amou as cantigas, aconselhou-me a gravar. Pensei, mas como, quem iria aceitar tal coisa, tal desafio, sem fins lucrativos?

Foi aí que Deus que decide nossos caminhos, destinos, colocou um ” senhorzão” de cabelos grisalhos, atolado debaixo de um inseparável chapéu. Conheci quando entrei para Aliflor (associação literária florianopolitana), ele logo com sua simpatia e carisma, aproximou-se de mim, contou-me que tinha uma editora e podia editar o meu primeiro livro, que a editora dele visava os pequenos escritores principiantes que não tinha condições de publicas livros em grandes quantidades.

Quando o aceitei,  alguns veio cochichar nos meus ouvidos criticando o trabalho dele, caro, mal feito, mesmo assim arrisquei a contrariar as criticas. Resumindo, em menos de um ano, consegui há duras penas realizar uns dos meus muitos sonhos, e outros esperando na fila. Primeiramente agradeço a Deus e a este senhorzão Donato, que também se revelou um produtor de cds, em dezembro de 2010, produziu um cd de poemas meus,com um número pequeno de exemplares bem vendido entre os amigos.Por coincidência seu Donato e eu ,moramos no mesmo bairro, apesar de um pouco longe, muitas vezes para eu ir lá, tenho que pedalar horrores, forçando o meu joelho doente com o meu Djair triciclo, mas quando não dar, vou a pé mesmo, vou de ônibus, mas vou .

Quinta-feira, 31 de março, chegou o dia da gravação das antigas cantigas. As 14:horas cheguei . O estúdio era numa varanda aos fundos da casa, ou seja, ao ar livre, achamos que era menos barulho que dentro de casa, claro sem prova do som, mas aí é que estava engraçado.
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Quando começou a primeira música, logo de cara os três cachorros labradores da casa, correram na nossa direção, um pulou em seu Donato, levou um tapa, caí na risada, gravando novamente. Depois de algumas músicas gravadas, Começa um som bem característico conhecido do Campeche, sendo tão próximo ao aeroporto, uma série de decolagem e haja barulho, haja espera! Até os passarinhos queriam participar cantando na gravação, que iriam ficar lindas as cantigas, só que eles cantavam antes, pena, Silenciado, recomeça a gravação...E lá vem ela, linda maravilhosa,a chuva, belíssima, mas barulhenta e atravessadora,poderia tanto compassar para fazer parte do arranjo musical...Assim mais um sonho meu realizado, ficou bom, um dia ficará ótimo, é muito trabalhoso, porém gratificante 

                          Dora Duarte

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