Um belo dia de sol, mas com um vento sul medonho, subi a Rua
João Mota Espezim, apressadamente, pois já estava atrasada para um compromisso
importante.
De
repente, vi uma coisa estranha, marrom brilhante, rolando sobre o asfalto,
carregada pela força do vento. Não queria parar pelo o motivo já citado e por
causa da ventania muito forte daquela de arrepiar tudo. Só que a curiosidade falava mais alto. Resolvi correr
atrás daquele objeto estranho.
Depois de uma carreira doida em zig-zag,
finalmente alcancei “aquilo”. Era uma semente grande, com cuidado apanhei com
as duas mãos, as fechei e abri em
seguida. Foi tamanha a minha surpresa em perceber que ela tremia e tinha os
olhinhos que piscavam para mim.
Comecei falando , fazendo-lhe dezenas de perguntas
como se tivesse a certeza dela me responder e respondia-me sim com os olhos
piscando. Daí tive uma ideia e disse à ela:
─ Para cada pergunta que eu fizer, se for sim, uma piscada,
ser for não, duas piscadas. Ela entendeu com uma boa piscada. Assim num diálogo
estranho, diferente, foi uma forma
inusitada de comunicação entre a semente e eu. Assim contou-me sua história
através das minhas perguntas e as piscadas de olhos:
“Eu sou uma semente importante, vim
carregada pelo vento, preciso ser plantada, porque a minha espécie estar em
extinção. Cortaram minha mãe,o tronco,meus
irmãos,os galhos e minhas irmãs, as sementes ,pegaram para
artesanato. Somente eu escapei, mas foi carregada pelo vento “.
Pediu-me para replantá-la, regá-la,
cuidar bem para que ela pudesse sobreviver.
Foi assim que eu entendi e foi assim
que a plantei no jardim do Conselho Comunitário. Imaginei que, ela é uma
semente especial, filha da árvore que deu o belíssimo nome da nossa mãe pátria.
Acredite se quiser.
Dora Duarte