O RANCHO MAL
ASSOMBRADO
Dois compadres caipiras, vinham vindos da roça com enxadas nas costas,
de onde foram cuidar da plantação. De repente, de tardezinha pela estrada, o
tempo vira e as nuvens escurecem prometendo uma tempestade medonha. Logo começa
a relampejar, a trovejar e os primeiros pingos de chuva caem.
Um deles era muito medroso, o outro
mais corajoso. O medroso atraca nas calças do outro, mais precisamente na
cintura, e fala covardemente, se tremendo todo quase borrando as calças:
─ Cumpadre, estou morrendo de medo
desta tempestade, e se cai um raio, o que será de nós!?
O caipira corajoso, responde otimista:
─ Ô cumpadre, não se aperreie que vamos achar um lugar pra gente se
amparar da chuva!
Olhando nervoso, bem nos olhos do compadre, o caipira medroso arregalou
os olhos e perguntou assustado:
─ Mais cumpadre, onde?
─ Olha lá aquele rancho, tá vendo compadre, vamos nos abrigar lá!?
Tremendo que nem vara de cipó verde, o caipira medroso falou mais
assustado ainda:
─ Mas compadre, ouvi dizer que esse lugar é mal assombrado!
─ Que nada, isso não existe! É tudo fruto da imaginação do povo.
E lá se foram os dois.. .O compadre corajoso, arrastando o compadre
medroso que de vez em quando recuava. Mas o medo era tanto, que o medroso não
largava o corajoso, já encharcado de água da chuva.
Ao chegarem ao rancho, numa tremenda escuridão, mal dava para enxergar
direito, a não ser quando o céu relampejava, clareando tudo pela fresta das
telhas quebradas. O vento forte que batia na janela e na porta, parecia que ia
arrancá-las do lugar. Dentro do rancho, os dois caipiras foram para a cozinha,
o lugar mais seco e sem goteiras.
O compadre caipira medroso, tremendo mais que vara verde, não se sabe se
era de frio, ou se era de medo, resmungando temeroso, falou:
─ Tô com medo cumpadre, desse escuro medonho!
─ Se acarma home, que vô ajuntar uns graveto pra fazê uma fogueira pra
esquentar nóis dois. Tenho fósfo e vô acendê o fogo. Disse o corajoso, juntando
os gravetos.
A caixa de fósforos, com os últimos três palitos, estava tão molhada que
foi preciso aquecer palito por palito, como também o lado da caixa onde se
risca os palitos. Foi assim, que o primeiro depois de muito ser esfregado, foi
riscado e falhou. Então foi a vez dos segundo e do terceiro.
─ Ai cumpadre! E se os outro também faiá?
─ Carma cumpadre, carma!
Para o desespero do caipira medroso, o segundo palito, também falhou.
Finalmente, veio o terceiro palito, quando os dois compadres prenderam a
respiração e começaram a esfregar, a esfregar, até ele ficar aquecido.
- Riscou, riscou!!! Acendeu!!! Gritaram os
dois, se benzeram aliviados. O corajoso acendeu os gravetos que foi logo
pegando fogo, e suas chamas aumentando. Mas quando de repente, em volta da
fogueira, os dois caipiras começaram a se aquecer, um barulho de porta se
abrindo e um ranger de dobradiças enferrujadas, ecoou simultaneamente. Foi
então que o compadre medroso atracou-se no compadre corajoso, com os olhos
cerrados, falou aos gritos, numa só comoção:
─ Ai, ai, ai meu Deus, acho que é uma alma penada! Ai cumpadre, o que é
isso!? O compadre, agoniado, foi falando mais alto ainda:
─Larga de ser medroso, home de Deus! Ô cara cagão, num tá vendo que é só
uma forte ventania, que deve ter aberto a porta?
Nisso, ouviu-se umas pisadas bem leves, “aquilo” se aproximando em direção
à cozinha, mais precisamente, em direção à fogueira, quando o cumpadre
corajoso, que estava de costa, virou-se e exclamou:
─ Ah cumpadre... É só um frango! Tadinho, tá todo molhado querendo se
aquecer também na fogueira.
─ Ai, que susto, cumpadre! Ainda bem que é só um frango, né? Falou o
medroso aliviado, trazendo o galo para perto do fogo.
Porém, quando os dois começaram a esfregar as mãos nas labaredas da
fogueira, mais aliviados... para o espanto dos dois, ouviu-se uma voz bem
próxima da fogueira, tranquilamente:
─ Ufa! Tá tão quentinho aqui!
Nesse momento, os dois caipiras olharam o frango, e de olhos
esbugalhados se olharam pálidos que nem vela de defunto.
Uma releitura de Dora Duarte, de um autor desconhecido.
Dorinha precisas começar a narrar este conto, ele é fantástico. O público vai gostar muito.
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