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domingo, 1 de maio de 2011

Os últimos pau de arara (parte ll )


                                           Parte ll
_Reze muito assim como eu vou rezar e que Deus te acompanhe e te faça muito feliz. E não esqueça de estar sempre me mandando notícias!


                 Estrada longa empoeirada, sem fim, sol ardente.Nas primeiras horas de viagem o silêncio dos “paus” de arara era quebrado pelo o ronco do caminhão, que parecia um gemido.Iam ficando para trás, primeiro terras infértil,  gado magro, casas de palhas, ou de   taipas, casas de reboco mal  caiadas faltando um pedaço, com meninos barrigudos nos terreiros embranquecidos , mulheres sentadas na porta de sua casa, catando piolho na cabeça de sua filha. Cenário triste de um povo sofrido e castigado pela seca. Depois a paisagem muda para vastos canaviais.

              De repente o silêncio é quebrado pela freada do caminhão para que todos desçam para o almoço coletivo, feito na sombra de um arvoredo, ou debaixo do caminhão. Cada um abriu seu saco, comeu primeiro a farinha com a carne assada, poupando para que desse para os dez dias ou mais de viagem, trocaram uns com os outros , rapadura, doces e assim foram- se familiarizando e se tornando unidos com os mesmos ideais na cabeça, uma nova vida!
          
             Novamente o caminhão pegou a estrada. Começaram a conversar entre si, o Braz tirou a gaita da sua mala e começou a tocar, sabia várias músicas alegres, mas não sabia porque lembrou naquele exato momento das canções que sua mãe cantava no roçado e dos assobios do seu pai, um nó na garganta  uma saudade lhe fez tocar elas, doeu mas conseguiu!

             Anoiteceu, só  avistaram escuridão, todos ali já estava ciente que dormiria como pudesse, pois as pensões de beira de estrada eram caras, ninguém ali podia pagar.

Uns deitaram em cima da lona, outros armaram redes debaixo do caminhão e foi lá que os três amigos se alojaram, só o João Batista tinha levado rede.Eram os mosquitos picando, um sono inquieto, mas vencido pelo cansaço abavam dormindo.


     Assim foram dias e noites de sofrimentos. Atravessando vários estados do nordeste, cruzaram o rio S.Francisco, entre Alagoas e Sergipe, enfrentaram chuva, sol e vento. dias quentes, noites frias principalmente na região de Minas Gerais  primeiro estado do sudeste a passarem rumo á S.Paulo.

                 Finalmente, depois de cruzarem o estado da Guanabara, chegam no estado de São Paulo. O  caminhão pau de arara parou,  como de costume toda vez que ia e vinha, na cidade de Aparecida, para todos visitarem a igreja de N.S. Aparecida padroeira do Brasil, não poderia deixar de visitar a cidade de grande romaria pelos os brasileiros devotos da padroeira. Foram momentos de devoção e oração, assistiram a missa, todos almoçaram aquele resto de farinha e carne já velha, mas ainda dava para alimentar, outras comidas tinham acabado, teria que agüentar, que poupara ainda tinha sobrando, quem não estava por fim.

            Chegaram na maior metrópole do país, olhos espantados em todas direções, não podia imaginar como seria a vida naquela imensidão de prédios, casas, carros indo e vindo.
 Desembarcaram numa praça no Bairro da Luz, onde o tio do Braz os esperava.

            __Até que enfim não é Braz?
            __A bênçâo tio José
             __Deus te abençõe, nem preciso perguntar se fez boa viagem, já sei como é horrível, porque passei por tudo isso!
            __É mesmo, estamos moídos. Trouxe os meus amigos para tentar também nova vida aqui, podes os abrigar na sua casa,  por um tempo provisório?
           __sim claro, a casa é pequena, mas o coração é grande!
           __Vamos lá, vamos  todos no meu caminhão que está estacionado do outro lado da praça ,quero dizer no que estou trabalhando , caminhão de frete, já estou  juntando dinheiro para comprar o meu próprio, só estou precisando de um sócio, quem sabe tu arrumas um emprego logo e me ajudas a pagar?
           __Sim tio com certeza!

             Bairro da Lapa era lá que o seu tio morava, numa casa geminada de uma vila muito. Moravam juntos, a mulher e dois filhos paulistinhas, pequenos um de três anos e outro de quatro. A casa só tinha um quarto, uma cozinha e uma sala grande, era lá que os três amigos iriam dormir, em redes.

                 Descansaram dois dias e logo foram procurarem emprego com ajuda do seu tio.Chegaram no centro, próximo avenida S. João, olhos atentos e admirados ao ver tudo aquilo, olham para cima dos arranha-céus, atravessam ás esquinas medrosos de serem atropelados, visitam praças, seu tio com uma câmera fotográfica que já tinha adquirido tirou fotos nas praças e ruas, visitou a galeria Preste Maia, aonde aqueles matutos assustados, tentaram e conseguiram subir naquela escada rolante, O João Batista quase desequilibrou e rolou de ponta cabeça, se não fosse o apoio do seu José que já havia se acostumado. Ele fez todo aquele percurso, para eles aprenderem as mesmas coisas que ele tinha aprendido.O próximo passo dos novos emigrantes, era procurar emprego no centro, nos bares, ou restaurantes, era o comércio, que mais empregava de imediato, ou então a construção civil. Eram os nordestinos que ajudou S.Paulo crescer de tamanho e altura, com a sua mão-de-obra mesmo sem qualificação.
                   Logo os três aprenderam a andar de ônibus do bairro da Lapa ao Centro da cidade. Um a um foi conseguindo um emprego. Quem apresentou os dois aos respectivos empregos, foram os visinhos de seu José que trabalhavam lá e arranjou para  eles. O João Batista no restaurante  Sopão a tradicional sopa da rua  S. João, o Genésio, numa lanchonete próxima, o Braz estava sendo ajudante de caminhão junto com o tio,mas não queria aquilo, queria uma profissão  que lhe desse futuro e pudesse um dia voltar e montar um negócio.Estava com o tio provisoriamente, até poderia fazer sociedade na compra do caminhão, mas só entrando com o dinheiro.
             
              Um belo dia quando fazia entrega de um frete de farinha de trigo numa grande confeitaria, dessas que serve chá da tarde, bufet e rotisseria  viu uma placa “Precisa-se de ajudante geral”. Não pensou duas vezes, entrou lá para se identificar e dizer que estava interessado. Saiu todo contente quando o gerente falou para ele no dia seguinte cedo, vir até ali. Saiu muito contente até assobiando...

Um comentário:

  1. Muito sofrida a viagem do Bras e seus amigos!Vamos a parte final dessa linda história!Bjs,

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