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segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

O AVARENTO


Meu Deus até onde vai a avareza humana!?

Vou narrar exatamente como era  João Nicolau...

Lá para as bandas do nordeste brasileiro, num lugarejo meio que escondido no mapa, morava João Nicolau, junto com a mulher e uma filha doida. Até para época, João Nicolau tinha poucos filhos,até nisso ele era mesquinho  só três filhas: a Dinar e  duas já  casadas, moravam na redondeza. Sabendo como era o pai, ficavam meio que de longe, sem muitas visitas.

Esse homem era de uma mesquinhez sem tamanho:”mão de vaca” “pão duro””muquirana”...Aqui cabem todos os adjetivos para quem é avarento, mas vou deixar de lado. Dono de muitas terras, um belo rebanho de gado, o casarão era uma tapera, pois, nem isso ele conservava. Para cuidar da saúde do gado, ele mesmo fazia, as injeções quando era preciso( perdeu muito por isso).
 Ninguém via a sombra do dinheiro que ele ganhava comercializando gado de corte. Ás vezes inteiro, ás vezes matava e vendia as mantas de carne, pouco tirava para o consumo de casa e quando isso acontecia, o melhor parte da carne, era para ele, a mulher e filha comia as sobras..
 A filha doida era presa numa masmorra, um quarto fétido, podre sem ventilação, a porta era escondida, para acesso dos responsáveis, somente uma pequena janela para alimentação. Naquela época, era comum as famílias fazerem isto, por precariedade de internação para os loucos de casa, quando ofereciam perigo de violência e fuga. Não era o caso da Dinar. Era calma, risonha, vez em quando, mais na força da lua cheia, soltava uns berros....Uma vez ou outra, era solta. O que fazia demais não era diferente do que fazia na masmorra( comer bosta) ia na “casinha” e enchia a mão, talvez já estivesse viciada nisso..

João Nicolau,  ainda tinha  pai , seu Popó, que morava sozinho há uns quinhentos metros da sua casa, numa tapera em péssimas condições de tudo, só uma rede velha para o ancião dormir,. O casebre não tinha nada, e ao mesmo tempo tinha tudo: cheio de telhas quebradas, as paredes se desmanchando,lagartixas , sapos, bichos rasteiros ...Ajudar ao pai? Nem pensar, as bisnetas eram que levavam a refeição do bisa, por sinal, uma comida simples já que a  filha do João Nicolau, era mãe de doze filhos.e muito pobre, portanto com o marido, ela e o avó Popó, eram quinze bocas para alimentar. Vez ou outra, a irmã que morava mais longe ajudava.
Os netos mais velhos éramos  que ajudavam o avô tocar o gado, era favor obrigatório, nada ganhava para isso, empregado? Não existia. Quando o neto, para experimentar a mesquinhez do avó, pedia um bezerro como pagamento dos serviços, ele negava, aliás, oferecia  sim, um que já estava mais morto do que vivo, magro e doente, porque tinha certeza que já ia perder.

Passou-se o tempo, foi morrendo, primeiro o seu Popó, coitado morreu a míngua, dizem que na hora da morte, colocaram uma vela na mão dele, como era de costume, quando dava tempo de fazer este ato, ele confundiu a vela com macaxeira(aipim), reuniu suas ultimas forças para dizer a última frase antes do último suspiro” Isto é macaxeira é?” Fecha-se a cortina do inferno em que vivia seu Popó, para abrir as cortinas do paraíso celeste, o céu, acho que no céu, ninguém passa fome.
Depois  morreu  d Cecília,  esposa do João Nicolau, sabe lá do quê. Depois de alguns anos,a morte da Dinar, a filha doida. Na hora de enterrar, falou-se em comprar um caixão, ele não permitiu, disse que ela iria na rede e era para trazer a rede de volta.

Depois do acontecido, só desgraças assolou a vida desse homem, Com a seca brava que já existia,o gado começou a morrer um por um, o roçado minguado, nada produzia de bom, o pasto pior ainda, até mesmo o cacto, “palma” para alimentar o gado, estava desaparecendo.
Mas... E o dinheiro guardado? Que nem no Banco da capital, ele confiava em deixar?
 Aonde estava? Ninguém sabia e nem ousava a perguntar. O João Nicolau andava desolado, cabisbaixo, magro, quem sabe até sem saúde, já que ele não se cuidava e nem  se abria com ninguém.

Um dia de finado, mas que atípico, juro que eu  vi,  testemunhei, eu e mais uma multidão dentro do cemitério, o João Nicolau lá fora comprou uma vela só. Entrou, algumas pessoas o  seguiu sutilmente ,disfarçadamente, como não queriam nada. Vira o João Nicolau acender a vela e chorar no túmulo da filha Dinar. Não se  sabe se ele chorava por arrependimento do que foi para filha, ou se era porque a vela estava derretendo. Falou-se até que no dia seguinte, ele iria lá pegar a vela derretida para refazer, para no ano seguinte não precisar de comprar uma.

Até o fim do João Nicolau,ele não mudou, não houve emenda...Ele voltava de viagem, duma cidadezinha vizinha, no final do dia . já escuro, o cavalo o qual ele montava assustou com alguma coisa, relinchou ficou inquieto, levantou as patas dianteiras e derrubou o João Nicolau numa ribanceira. Ele quebrou a clavícula, machucou-se todo. Atrás vinha um jipe taxi, o motorista foi prestar socorro, ofereceu-se para levá-lo a um hospital na capital, ele de cara rejeitou dizendo: “Eu não paguei para cair, não vou pagar para me levar no hospital”. Doente, todo quebrado, infeccionado, não pagou para levar ao hospital...Morreu João Nicolau.
 A casarão tapera com o tempo foi demolido, os netos acharam a (botija) no meio do reboco, toda cheia de moedas e cédulas sem valor algum..

Dora Duarte

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