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terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

A besta Jeitosa e a égua Borboleta (Causo)



Há muito tempo, pelo final da década de 70, os meus sogros eram vivos ainda                                                                                                                                           
Viviam no oeste de Minas Gerais...Indo de Belo Horizonte, era a estrada que dava rumo á Serra do Cipó, passando por várias cidadezinhas até chegar lá, mas precisamente na cidade de Dom Joaquim, pensaram que cheguei? Nada, mais seis léguas de estrada deserta, ou seja, dezoito quilômetros, coisa de mais de sete horas de viagem de BH  até chegar no Vale do Silêncio(detalhe:fui eu que o batizei assim)

“Ô lugazin longe sor !”Um vale lindo, até difícil descrever tanta beleza natural!Um ribeirão cortava o vale no meio, de um lado as montanhas, do outro, pasto verdes, árvores, palmeiras de todos os tipos, borboletas de montão de várias  cores, sítios, fazendas, separadas apenas por porteiras, muito gado, cavalos, muitas frutas, enfim, se existe um paraísos terrestres, ali era um deles.
Então, era neste imenso “paraíso” que os meus sogros moravam e aonde eu costumava ir junto passar as férias escolares do meu pequeno filho Ricardo, já que o pai nunca podia, eu fazia as vezes dele.

Era uma casa singela não muito grande, cheio de flores e plantas em volta, galinhas no quintal, gados, cavalos, porcos nos chiqueiros,um cachorro chamado “Estado” e uma cadela chamada "Surpresa". O bastante para  nos acolher com muito amor e carinho. A minha sogra Ana, era uma criatura bondosa, quase uma mãe, não sabia o que fazer com a gente de tanta dedicação, tratava de chamar a irmã para fazer “quitandas” de fartura para nós.num forno à lenha. Era broa de milho, bolachas de nata, biscoito de polvilho, pão de queijo e por aí vai...

Havia um engenho de cachaça , rapadura e melado, onde nós  esbaldavam com a garapa da cana-de-açúcar. O meu sogro Altino, vendia tudo feito no engenho, também matava porco para vender na cidade., moia fubá para os gastos de casa e também para vender.

 A minha sogra era a fazendeira dos queijos de vários tipos. Tinha um que eu adorava, nem se acha para vender em lugar nenhum, era o requeijão com a nata tostada, muito saboroso, fazia questão de fazer bem na hora que eu ia tomar café, para que eu pudesse saborear derretendo. Na verdade, ela fazia todos os meus gosto, como também do meu filho, até quando o menino ia ao ribeirão pescar, trazia uns pequenos lambaris, ela limpava e fritava para ele, se ele cismasse de comer um pintinho na faze de virar frango, cujas penas não tinham crescido direito, lá ia ela mandar matar e preparar , fazer os gostos do neto.

Falando em fazer gosto, foi aí que me fizeram asminhas vontades... Dar um passeio quase que diário, numa  besta  chamada Jeitosa e na égua Borboleta...Parece coisa de maluca, mas eu gostava de conversar com elas, ou seja, um monólogo é claro, Portanto por incrível que pareça, elas  entendiam o que eu pedia com jeitinho.

A Jeitosa, que o menino Helinho, o pequeno peão de oito anos dizia: ( tinha que trocar o nome por peidosa), porque mal subia nela, disparava a soltar peidos, mais parecia uma metralhadora. Coitada, também pastando  o dia todo, barriga cheia, peso em cima, só podia mesmo acontecer isto!

Quanto a Borboleta, essa era uma égua branca , bonitona, charmosa super talentosa, Aliás, todas duas, sabiam exatamente os caminhos aonde levar seu dono, como também as visitas para um passeio vez em quando,
Na verdade, apesar da beleza da Borboleta, eu preferia mesmo era a feiosa besta Jeitosa .
 Ela era mais dócil, gentil. Gostava de conversar com ela.

Um belo dia ensolarado resolvi dar um passeio no vale, pedi ao pequeno peão para encilhar a Jeitosa. Quando eu vi ele capturar no pasto, colocar cela, ela começou com rebeldia, não concordando, ele começou a chicoteá-la. Chamei atenção, dizendo para ele não fazer aquilo,
Disse ele: _ Ah ela só obedece assim, quer ver como ela aceita na marra eu subir? E subiu surrando com o cipó. Disse:

_Desça, deixe eu conversar com ela: _ Jeitosa calma ai querida, não fique assim tão brava, não vou deixar ele bater mais em você. Olha só,(eu alisando ela) eu só quero dar uma voltinha, até lá na estrada, depois voltamos prometo!

Na mesma hora, ela aceitou a cela, todos outros apetrechos próprios.
E subi nela numa boa, fomos passear pelo vale até a estrada, sem reclamação. O único som que saía dela, eram os peidos, esse não tinha como evitar.
 Quanto a Borboleta? Toda vaidosa, foi me levar no último dia de férias ao passeio, o meu filho gostava mesmo era de ficar pescando e tomando banho no ribeirão com o Helinho e eu  despedir do verde Vale do Silêncio. Só que eu não sabia lidar com égua “namoradeira “.
 Na volta, mal atravessei o riacho, ela avistou um cavalo começou a se mostrar a ele relinchando sem parar, e ele respondendo, vindo na nossa direção, ai que apuro passei!
 Foi quando tive a idéia de monologar com ela:

  _Borboleta, agora não, não é hora de paquerar, deixe pra outra vez, comporte-se viu?
Já está quase chegando, depois peço pra te soltar, daí faça o que tiver vontade.
Vamos Borboleta, corra, corra!!!!
Parece piada, ou brincadeira, ou mesmo intuição, só sei dizer que ela galopou comigo, tive medo de me esborrachar no caminho. Ufa foi por pouco!

 Anos se passaram, os meus queridos sogros morreram, sobrou só lembranças de um tempo que foi tão bom, lembranças das minhas “amiguinhas” Jeitosa e Borboleta..

Um comentário:

  1. Dora,vc tem um jeito tão especial de fazer narração! Até parece que a gente tá vivenciando a cena de tanto detalhe! Toda essa proximidade da natureza fizeram daquela menina da foto ''15 aninhos'' (eu vi rs)uma mulher audaz,lutadora, para a qual não existe barreiras intransponiveis.Tudo que vc quer vc consegue!!! Parabens, gostei do (causo)

    Bj


    Jose

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